quarta-feira, julho 29, 2009

Because I could not stop for Death, by Emily Dickinson



Because I could not stop for Death,
He kindly stopped for me;
The carriage held but just ourselves
And Immortality.
We slowly drove, he knew no haste,
And I had put away
My labor, and my leisure too,
For his civility.

We passed the school, where children strove
At recess, in the ring;
We passed the fields of gazing grain,
We passed the setting sun.

Or rather, he passed us;
The dews grew quivering and chill,
For only gossamer my gown,
My tippet only tulle.

We paused before a house that seemed
A swelling of the ground;
The roof was scarcely visible,
The cornice but a mound.

Since then 'tis centuries, and yet each
Feels shorter than the day
I first surmised the horses' heads
Were toward eternity.

Do not go gentle into that good night, by Dylan Thomas



Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

domingo, julho 26, 2009

Martin Birck's Youth, de Hjalmar Söderberg

Um livrinho muito belo, do qual fui gostando mais à medida que avançava na sua leitura. À primeira vista facilmente catalogável como um livro "rich in fin-de-siècle themes: melancholy, eroticism and decadence abound", como diz na recensão da contra-capa, é na verdade muito actual, pois foca uma questão intemporal - o contraste entre o que desejamos inicialmente e o que nos tornamos na realidade, a procura de um "sentido da vida", quase universal na juventude, e qual o sentido dessa procura.

O tom é suave e elegante, um misto de melancolia e nostalgia (fin-de-siècle?); acompanhamos a personagem principal, não especialmente simpática mas muito real nas suas aspirações e sensibilidade muito características de uma classe média culta ("...the melancholy with which life punishes the man who thinks more about beauty and ugliness and good and evil than about his daily bread."), desde uma infância protegida e despreocupada até à estagnação a que se entrega voluntariamente - por comodismo e nihilismo - aos 30 anos. Passamos pela fase em que ele espera que o sentido da vida se lhe revele de alguma forma - "He read and he thought. In books and in his own thoughts he looked for that which young people so often seek, only to forget in their old age that they have ever worried about it: a belief to live for, a star to steer by, a coherence to things, a meaning and an aim." - que no entanto lhe escapa - "In those days the thousands of unfulfilled desires he carried within himself were like many shimmering hopes and half-made promises, for long years of emptiness and disappointment had not yet ground them into sharp knives that pierced and tore at the soul."

A certa altura, chega à conclusão que apenas algumas pessoas têm a determinação para se dedicarem exclusivamente a um objectivo e eventualmente o atingirem, pois a maioria gosta de apreciar a vida pelo caminho, e a saída que encontra é um contentment com o quotidiano nimbado de nihilismo e indiferença.

Na velha imagem da vida como uma viagem, em que há os que só se preocupam com chegar a um destino e os que preferem ir apreciando o caminho, tenho vindo a inclinar-me também para a segunda tendência, mas penso que não é necessário cair no nihilismo e indiferença de Martin Brick, confortáveis justificativos para a mediocridade comodista em que se refugia. Acho que se podem pensar destinos a médio e longo prazo, lutar por eles, enquanto se aprecia o trajecto da melhor forma possível. Talvez não sejam destinos grandiosos nem gloriosos, mas só temos esta vida, e a melhor forma de a viver não será tentarmos ser felizes e criar alguma felicidade à nossa volta? Alguns de nós teremos a capacidade e a oportunidade de o fazer em maior escala, tanto melhor.

sábado, julho 25, 2009

Velhice



“Last scene of all, That ends this strange eventful history, Is second childishness and mere oblivion, Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything”

William Shakespeare in As You Like It

ntem chguei a casa triste, com aqiele género de aperto no coração de quando algo nos impressiona e deprime e temos consciência de que não podemos fazer nada. O rosto cadavérico e os olhos de uma tristeza resignada da D.Zulmira quando nos apertámos as mãos, ela sentada no carro que a levaria ao hospital, e eu a dizer "até à próxima" com um sorriso que tentava ser encorajador, perseguem-me até agora, e por isso apeteceu-me escrever sobre ela.

Conheço-a há uns 4 anos, e tornou-se minha doente há 3, depois de alguns conflitos entre as filhas e a sua então médica assistente. (Apesar da minha fama de mau feitio, ou talvez por causa disso, recebo muitas vezes doentes que se incompatibilizam com outros médicos.) Preparei-me para uma relação difícil com uma doente opiniosa e filhas intrometidas (habitualmente, nestes casos as famílias são o pior; apesar de geralmente bem intencionadas, as boas intenções e frequentemente os sentimentos de culpa são fatais para a sensatez), mas felizmente tudo correu pelo melhor. A doente era uma professora primária reformada de 82 anos, ainda com uma excelente cabeça, sempre muito aprumada e determinada, que proibiu as filhas de irem à consulta com ela para não estragarem a relação com o novo médico assitente - sábia resolução, que só por si mostrou que tinha muito mais juízo do que elas. Nunca foi uma doente dócil: sempre inquisitiva e determinada, ferozmente independente e lutando contra os inevitáveis efeitos da idade e da doença, nessa altura ainda pouco visíveis. Sempre encorajei a sua independência e curiosidade, embora desde o início previsse que passaria um mau bocado a fazê-la aceitar o declínio que seria inevitável, e esperava secretamente que tivesse a sorte de sofrer algum acidente rapidamente fatal antes de isso acontecer. Lembro-me de conversar com ela durante os tratamentos, de como ela se destacava dos outros pela sua postura sempre educada, muito direita no seu 1.50m de altura e cabelo em carrapito, a ler ou a escrever num caderno onde anotava pensamentos, ideias e projectos. Muito obsessiva, discutia cada comprimido até ficar convencida, altura em que reconhecia a sua utilidade e cumpria escrupulosamente.

Durante cerca de 2 anos, manteve-se muito bem, suportando entretanto com notável força de espírito a doença e morte do marido; as filhas iam aparecendo por vezes, muito mais obsessivas do que a mãe (chegavam a acordá-la às 3 da manhã para lhe dar comprimidos!), mas nunca precisei de me aborrecer com elas. Mas, de há 1 ano para cá, a esperada e temida decadência começou, desencadeada por uma crise de colangite litiásica. O equilíbrio que até aos 84 anos fora tão estável começou a desmoronar-se. Outras doenças intercorrentes, pouco graves em si, foram-se sucedendo, e cada uma era como uma machadada que a deixava mais frágil, mais incapacitada, mais desmemoriada. Angustiava-me vê-la pedir-me para repetir a medicação todas as semanas, porque a esquecia, ver que no caderno passava a escrever apenas sobre as suas queixas físicas e medicamentos, agarrando-se tenazmente à vida e à independência que sentia fugir-lhe de dia para dia. Não podia passar por ela sem que me retivesse pelo menos meia hora com as mesmas queixas, no fundo apelos a que eu fizesse o milagre de a manter como era antes. Cheguei váris vezes a evitá-la, fingindo que não estava lá, em dias em que tinha menos tempo ou paciência, e depois sentia-me terrivelmente desconfortável pela minha cobardia. As filhastambém se tornaram mais insistentes, mas com elas foi fácil lidar: expliquei claramente o que se passava e o que havia a esperar - decadência progressiva até à morte.

E ontem estava pior do que nunca, como murmurou, numa apatia tão pouco característica da sua personalidade, "já estou como um fantasma". Quando me despedi dela, ambos sabíamos que não devemos tornar a ver-nos. Ou, se ainda recuperar desta vez, voltará mais fraca, e será apenas para prolongar esta situação por mais uns dias, umas semanas, eventualmente uns meses, já que apesar de tudo tinha uma constituição robusta e estas pessoas são por vezes de uma resistência espantosa (e só nas novelas é que os médicos sabem o tempo de vida que resta aos doentes com uma exactidão ao dia ou à semana).

Gosto muito da minha profissão, mas há alturas em que pode ser muito deprimente.

sexta-feira, julho 24, 2009

A Morte de Artur, de Thomas Malory

Estou a reler A Morte de Artur, com o mesmo prazer de sempre. Li pela primeira vez esta história em criança, num livro de uma colecção brasileira, que se chamava O Rei Artur e os Seus Cavaleiros, que adorei. Depois disso, li várias versões, incluindo a versão "feminina/feminista" de Marion Zimmer Bradley, As Brumas de Avalon, que é muito interessante, mas nada como o original, ou o que mais se aproxima dele. Artur, Morgana a Fada, Merlim, os cavaleiros e as suas aventuras maravilhosas, a espada Excalibur...

segunda-feira, julho 20, 2009

Revolutionary Road, de Sam Mendes



Um filme intenso, com uma excelente interpretação de Kate Winslet (não consigo gostar do Leonardo DiCaprio....). O argumento é muito bom, e a questão que levanta muito interessante - até que ponto somos capazes de realizar os nossos sonhos?
Quantas vezes não fazemos nada para evitar o insucesso? O que significa exactamente sentirmo-nos diferentes?

Milk, de Gus Van Sant


Um excelente biopic de Gus Van Sant, com óptimas interpretações, sobretudo de Sean Penn. Um pouco hagiográfico, mas sem cair no melodrama nem na pieguice, capaz de nos fazer empatizar com apersonagem principal e a sua luta, que está muito bem retratada - um bom exemplo de activismo político positivo e eficaz. Sean Penn está magnífico, é um dos melhores actores da sua geração, como já mostra desde Taps, com pontos altos como Dead Man Walking e Mystic River. Gostei muito.

domingo, julho 19, 2009

Universal Mind, dos The Doors

E já que hoje estou numa onda de nostalgia, apeteceu-me ouvir o Universal Mind, a minha música preferida dos Doors. Já disse aqui o que ela me evoca. Foi bom constatar que continua tão bela como sempre, a voz de Jim Morrison nunca soou mais pungente.

Tom Waits

Descobri Tom Waits aos 18 anos, graças à minha namorada, e foi uma revelação - de repente dava com uma música, um som, uma voz, umas palavras, que eram tão... perfeitas? Eu nessa época cultivava a angústia existencial, saía de uma adolescência infeliz, e estava a descobrir um mundo afectivo completamente diferente e a entrar nuam das fases mais felizes da minha vida. Acho que não estava habituado à felicidade, e aprendera a gostar do meu eu deprimido e angustiado; de certa forma, música como a de Tom Waits e de Billie Holiday (que descobri na mesma altura) foram o ideal para me acompanhar nessa transição. Passaram anos e anos, e estou muito diferente actualmente, mas a minha paixão pela música do Tom Waits (e da Billie Holiday também) não diminuiu nem um pouco. É certo que já não me provoca delírios emocionais, mas continua a falar-me ao coração.

Deixo uma das músicas do primeiro álbum que ouvi de Waits, Nighthawks at the Diner. Ainda é dos meus preferidos.

sábado, julho 18, 2009

The Visit of the Royal Physician, de Per Olov Enquist

Este é outro dos livros de autores suecos que comprei em Estocolmo. Gostei muito. Trata de um episódio da História da Dinamarca, no século XVIII, quando o médico alemão do rei louco Cristiano VII tentou aplicar os princípios ideológicos do Iluminismo numa Dinamarca atrasada e absolutista, terminando derrotado pelos conservadores ao fim de dois anos. A história é fascinante, ainda mais por ser verdadeira, e o livro está tremendamente bem escrito - num tom simples, quase de conto de fadas, contrastando com a riqueza dos conteúdo, das personagens e das ideias. O autor trata das questões do poder, da aplicaçõa dos ideiais, do choque entre a ideologia e a prática política, e as personagens são incrivelmente reais e convincentes, desde o rei instável e perturbado destruído por uma educação maquiavélica, a rainha criança que cresce e floresce estimulada pelas circunstâncias, ao médico idealista e atormentado pelo remorso e o devoto humilhado atormentado pelo pecado, passando por várias outras menos importantes. Muito bom.

domingo, julho 12, 2009

Uma citação de Natália Correia



Não Antero meu santo não me mato.
Antes me zango até ficar um cacto.
Quem me tocar (maldito) que se pique!


Tantas vezes me identifico com estas palavras!

Um amigo ofereceu-me a fotobiografia de Natália Correia. Fiquei a conhecer bem melhor a personagem e a sua obra, e se já a respeitava e por ela sentia alguma admiração, o meu respeito aumentou, sobretudo pela qualidade da sua escrita, por vezes barroca e excessiva, mas com poemas de grande beleza e sobretudo com uma força anímica e uma energia invulgares. Lembro-me em miúdo de a achar uma figura um tanto caricatural e divertida, e de facto era uma mulher com um certo excesso de energia e paixão que a levou a dizewr e fazer muitas coisas com as quais não concordo e de que não gosto, com alguma tendência ao exagero, mas é inegável que foi uma personagem, corajosa, inteligente, brilhante e marcante. De certa forma, imagino-a mais integrada na sociedade romântica, uma outra George Sand. Mas deixou-nos pérolas inesquecíveis, uma das quais, cujo impacto delicioso bem recordo na altura, é o poema que em minutos escreveu na Assembleia durante os debates da lei de despenalização do aborto:

"O Acto Sexual é para fazer filhos" - disse ele
Já que o coito - diz Morgado -
Tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

sexta-feira, julho 10, 2009

A propósito da gripe A - um artigo esclarecedor (reformulado)

Até agora não escrevi nada sobre um dos temas do dia, a gripe A e a pandemia, porque estava pouco interessado, pouco informado e nada alarmado. Além disso, aborrece-me escrever sobre o que toda a gente fala, acho que já várias vezes referi a minha aversão aos ecos propagados e repetidos ao infinito... Mas este sempre é um problema de saúde, agora estou mais informado (mas continuo não alarmado), e os meus amigos e conhecidos perguntam-me sempre o que acho, já que sou médico. Como penso que nestes assuntos (e noutros também) a informação de boa qualidade é o mais útil, passo a transmitir alguns pontos publicados num artigo de 18 de Junho no New England Journal of Medicine (a tradução é minha) que me pareceu muito esclarecedor sobre o que caracteriza uma pandemia, e é sempre bom sabermos do que estamos a falar... Inicialmente transcrevi-o integralmente, mas numa releitura concordo com a crítica de um amigo de que é demasiado técnico (ou talvez se tornasse chato devido à tardução) de modo que altero o post, deixando apenas os aspectos que me parecem mais relevantes.

The Signature Features of Influenza Pandemics - Implications for Policy
Mark E. Miller, MD, Cecile Viboud, PhD, Marta Balinska, PhD, Lone Simonsen, PhD
NEJM, June 18, 2009

A ideia básica é analisar as características típicas de uma pandemia de gripe, a partir do que se sabe das 3 pandemias do século XX (A/H1N1 de 1918-1919, A/H2N2 de 1957-1963 e A/H3N2 de 1968-1970), e retirar lições ara a próxima, que aparentemente já começou.

O autor apresenta como carcterísticas típicas (signature features) das pandemias:

1 - um desvio no subtipo viral
2 - desvios das maiores taxas de mortalidade para populações mais jovens
3 - sucessivos surtos pandémicos
4 - maior transmissibilidade do que a da gripe sazonal
5 - diferentes impactos em diferentes regiões geográficas.

Dado a primeira destas características ser habitualmente a mais falada, o autor concentra-se nas outras.

A segunda característica - o desvio da mortalidade para grupos etários mais jovens - foi a mais notável das pandemias do século XX. Não se sabe exactamente a razão, mas pensa-se que teria a ver com alguma imunidade prévia dos indivíduos mais velhos, que teriam contactado com tipos de vírus imunologicamente próximos no passado, tornando-os mais resistentes à estirpe quando esta provocou a pandemia. Por outro lado, outros dois factores contribuiram, quase de certeza pelo menos na gripe de 1918 (a de maior mortalidade): o vírus provocar uma "tempestade de citokinas" (citokine storm), que consiste numa activação exagerada do sistema imunitário que acaba por ser mais lesiva para o hospedeiro (e mais forte nos jovens, cujo sistema imunitário é mais activo) e diminuição das defesas respiratórias às infecções bacterianas (provocando pneumonias bacterianas, muitas vezes fatais sobretudo na era pré-antibióticos). O conhecimento inicial de quais as populações em maior risco de mortalidade pode condicionar a optimização das estratégias de controlo.

A terceira característica, um padrão de múltiplos surtos, caracterizou as três pandemias do século XX, cada uma causando aumento da mortalidade por 2 a 5 anos. Esta característica deve ser um incentivo a uma apertada vigilância epidemiológica e colaboração e partilha internacional de dados, para aproveitar as "janelas" entre os surtos para desenvolver lanos preventivos, vacinas e fármacos eficazes.

A quarta característica, o aumento de transmissibilidade da gripe devido à alta susceptibilidade da população, também foi documentado em todas as pandemias prévias, apesar das estimativas dos números reprodutivos - uma medida do número médio de infecções secundárias causadas por cada caso individual - variarem consideravelmente conforme os estudos e as pandemias. Estudos recentes sugerem que durante o primeiro surto ligeiro da pandemia de 1918-1919 o número reprodutivo terá variado entre 2 e 5, contra uma média de 1.3 para a gripe sazonal. O conhecimento destes dados é igualmente importante para o delinear de estratégias preventivas (do género de valer a pena ou não fechar escolas, etc).

Grande heterogeneidade entre regiões em termos de incidência e de mortalidade é também uma característica das pandemias. Esta variabilidade explica-se provavelmente pela complexa heterogeneidade no grau de imunidade das populações locais às estirpes de gripe circulantes, assim como por factores de transmissão como condições geográficas, tecido social, grau de infecciosidade viral e "forcing" sazonal (pequenas variações sazonais na taxa de transmissão efectiva). Os benefícios da partilha de dados sobre todas estas variáveis são incentivos fundamentais à colaboração internacional.

A gripe aviária, ainda recente nas nossas memórias, caracterizava-se por uma elevada taxa de mortalidade (50%), mas a sua transmissão, em parte por isso mesmo (matava mais depressa do que era transmitida) era pouco eficaz. Esta gripe de origem suína até agora tem uma mortalidade documentada de 0.2%, o que está dentro dos valores habituais para a gripe sazonal. No entanto, o risco é o da transmissão maciça - uma pequena pertcentagem de um grande número torna-se um número considerável, e a implementação de meddas de prevenção do contágio - como ficar em casa - podem complicar seriamnete o funcionamento da sociedade.

Por fim, o conhecimento destas características é útil para definir as prioridades de vacinação, tendo em conta as populações em maior risco e a evolução da pandemia.

segunda-feira, julho 06, 2009

Le Chercheur d'Or, de J.M.G. Le Clézio

A compra deste livro foi um bom exemplo do quão fracas são as nossas livrarias. Descobri-o um dia numa livraria do Saldanha Residence enquanto esperava por uma sessão de cinema, numa edição da Assírio & Alvim, folheei-o e fiquei com vontade de o ler. Dias depois, voltei lá, não o vi nos escaparates nem nas prateleiras no sítio do autor; pedi-o ao empregado, que depois de procurar e encontrar a ficha no computador foi incapaz de o descobrir. Procurei-o em várias das nossas maiores livrarias - Fnac, Bertrand, Bulhosa - e nada (lembremos que o autor foi o último premiado com o Nobel, o que poderia ter levado as livrarias a aproveitar para o vender mais). Algumas semanas depois, durante uma viagem à Bélgica, entrei na Fnac de Gent, que é relativamente pequena, e lá estava ele (se é certo que Le Clézio não é português, também não é belga e muito menos flamengo).

Na verdade, fiquei a ganhar - o que mais gostei no livro foi precisamente a linguagem, a beleza da escrita. Foi o segundo livro de Le Clézio que li: há muitos anos, li Deserto, que achei interessante mas nada de especial, gostei muito mais deste. O tom é onírico e poético, sempre narrado no tempo presente, o tema é a nostalgia e a busca do paraíso perdido e infinitamente recriado na imaginação, a narrativa desenvolve-se lenta e suavemente, com algumas cenas de grande intensdade, como o furacão na Maurícia, a guerra na Flandres ou o delírio da febre da pesquisa na ilha Rodrigues. Depois deste, fico com vontade de conhecer mais livros do autor.

Nostalgias desnecessárias

Nos últimos anos, tem-se assistido a um onda de nostalgia em relação a bandas e música dos anos 80 e 70 que atingiu proporções disparatadas, indo ressuscitar cadáveres que mais valia manterem-se bem enterrados no esquecimento... É patético assistir ao retorno de bandas como os Duran Duran, os Spandau Ballet, os Village People ou os Boney M - já eram maus naquela altura, mas pelo menos eram novidade e inseriam-se na cultura da época; agora são apenas maus e ridículos. O êxito do Mamma Mia vem na mesma onda; se é certo que a música dos Abba teve o seu tempo, e algumas canções são divertidas de ouvir, a dose de as ouvir todas de seguida é claramente excessiva, como constatei ao ver o video do filme, que é horrível.

Em Portugal, também se segue a mesma moda, e toca de passar na rádio os patéticos discos dos Heróis do Mar, agora rotulados de clássicos... Porque não os Jáfumega ou os delírios de Adelaide Ferreira? Pelo menos esses fazem rir bastante mais! O cúmulo do revivalismo idiota foi o disco de homenagem ao Carlos Paião, com versões das suas músicas por bandas actuais. É verdadeiramente confrangedor - por mais voltas que lhes dêm, são mesmo más.

E no entanto há tanta boa música feita nos anos 80! Chega perfeitamente, porque a boa música não cansa nem fica datada. Para lavar os ouvidos, deixo apenas dois exemplos, muito eighties, mas no seu melhor.




domingo, julho 05, 2009

Aumento da família


Mais uma vez inesperadamente, a minha família aumentou. Um gatinho, inicialmente destinado a um amigo, acabou por ficar connosco. Inicialmente tímido e medroso, decerto efeitos de ser separado da mãe e do irmão e da passagem por três casas em poucos dias, cedo perdeu os temores, e revelou-se um diabrete descarado e brincalhão, como só os gatos cachorrinhos sabem ser. Rapidamente nos conquistou, e é uma delícia ter novamente um gatinho jovem, disparatado e imensamente meigo, aque ronrona como um motor e se mete audaciosamente com as gatas, mais velhas e corpulentas, e depois de uns dias de hesitação, com o cão, que na sua infinita bondade e paciência, deixa que lhe morda as orlhas e as patas e ainda o lambe.

Estava longe de querer mais um gato, mas como resistir a esta criaturinha meiguinha e endiabrada?

Simplex?


Sou um adepto incondicional da simplificação da burocracia, e tenho saudado com entusiasmo os grandes progressos que têm sido feitos nos últimos anos - como o fim do papel selado, a entrega das declarações de IRS pela net, a multiplicação dos notários onde se pode fazer reconhecimentos de assinaturas, por exemplo. Alguns destes serviços não funcionam lá muiito bem - por exemplo, pedi pela net cartões de saúde europeus há2 meses e até agora nada, suponho que se perderam no espaço virtual - mas no conjunto o balanço tem sido inegavelmente positivo.

Infelizmente, provavelmente para não ficarmos demasiado mal habituados a tanta eficiência, apareceu o cartão do cidadão. Teoricamente criado para facilitar, e à partida parecia lógico, pois bastaria tirar um cartão em vez de uma série deles, na prática veio complicar imenso. Há 1 ano, os meus filhos, sempre cuidadosos e arrumados, conseguiram perder todos os respectivos BIs; rumámos à Loja do Cidadão e rapidamente os renovámos, depois de uma passagem igualmente rápida pelo Conservatória do Registo Civil para tirar certidões de nascimento. Há uns 3 anos, quando mudei de casa, precisei de renovar todos os documentos para alterar a morada - passaporte, BI, carta de condução - e lá fui à dita Loja: de uma vez renovei o BI, da seguinte os resantes, sempre rapidamente. Agora, a minha filha, depois de mais uma vez perder o BI, foi tirar o cartão do cidadão. Qual não é o meu espanto quando descubro filas intermináveis, distribuição limitada de senhas logo ao abrir da Loja, que se esgotam imediatamente, tempos de espera infindos. Depois de 3 tentativas infrutíferas, acabo por ir a Setúbal, onde a afluência é menor e lá conseguiu, mesmo assim com senhas e tempo de espera considerável. GRANDE retrocesso!

(Outro mistério burocrático, que penso que antecede o Simplex, é o cartão do utente dos serviços de saúde - em vez de um, passaram a ser precisos dois cartões para o mesmo efeito, já que continua a existir o da ADSE...)

sexta-feira, julho 03, 2009

Londres, sempre

Estive novamente em Londres, desta vez para mostrar a cidade aos meus filhos. Mais uma vez, confirmei que é das minhas cidades favoritas, o supra-sumo do cosmopolitismo, uma cidade viva e animada, onde há sempre que ver e fazer. Foi engraçado ver a reacção das crianças, que me fez de certa forma rever a cidade como pela primeira vez - a variedade das pessoas, a dimensão da cidade, as múmias no Museu Britânico, a animação do mercado de Camden Town, a música em St.Martin-in-the-Fields, o metro e os seus "mind the gap", as raparigas "descascadas" em Leicester Square, os parques com as pessoas a apanhar sol, as lojas, as jóias da coroa, os disparates de London Dungeon, os pubs, a cidra e o Iron Bru, o meridiano de Greenwich, etc, etc. Aproveitei para ver algumas coisas que ainda não conhecia, como a excelente National Portrait Gallery (com as magníficas galerias Tudor e os retatos dos meus tão amados Bloomsburyites), o Borough Market e o Museu de História Natural (que me decepcionou, depois de ter visto o de Nova Iorque, muito melhor).


Foi um viagem óptima, tivemos imensa sorte com o tempo, o meu Abdallah e a minha gata favorita adoraram e eu adorei a reacção deles. Londres é de facto uma cidade fantástica, e só lamento os exageros da segurança do estado, que felizmente não tive ocasião de testemunhar mas que amigos que estão a viver lá e com quem jantámos nos contaram - até quando o espezinhar das liberdades individuais em nome da segurança? Enfim, viajar é um dos melhores prazeres da vida, ideia que espero incutir nos meus filhos, e Londres é um óptimo sítio para começar.

quarta-feira, julho 01, 2009

Estocolmo e as ilhas Lofoten



Mais umas férias, desta vez em Estocolmo e com uma curta viagem pelo arquipélago das Lofoten no norte da Noruega. Depois de Copenhaga, o meu apreço pela Escandinávia continua a aumentar. Estocolmo é uma cidade belíssima, com edifícios esplêndidos distribuídos por várias ilhas entre o Báltico e o lago Mälaren. Passeei pela cidade velha, pelos bairros de Södermalm e Normalm, visitei o museu Vasa e a câmara municipal, comi muitos arenques marinados e almôndegas suecas, e mais uma vez senti o prazer de me sentir numa cidade civilizada, opulenta e cosmopolita. Comprei livros de autores suecos que não conheço e jantei com um sueco amigo do Facebook de um amigo, que confirmou alguns dos estereótipos sobre os suecos do Xenophobe Guide to the Swedes, que fora a minha leitura de avião, o que foi divertido.


Mesmo sem as boas graças do clima, que nos brindou com vários dias de chuva, foi uma viagem excelente. Ficámos num hotel-barco, o Ryjderford, no cais de Södermalm, com uma vista soberba sobre a câmara e Ridderholm, a ilha com o perfil arquitectónico mais bonito da cidade. E apesar de ser um pouco mais cara que Lisboa (sobretudo a restauração), a cidade não é proibitivamente cara, ao contrário da ideia que geralmente temos.





Já a Noruega é notavelmente mais cara, mas foi bom conhecer o Verão Árctico, com as suas temperaturas bem frescas (8 e 10ºC de máximas) e a sua luz constante - apesar de chuva qb e muitas nuvens, acabei por ver o sol da meia-noite à meia-noite! Percorremos a E10 com chuva e sem chuva, e é de facto uma paisagem lindíssima, com vistas de cartão postal a cada curva, com os fjords com neve a derreter erguendo-se directamente do mar, as casinhas de madeira vermelhas sobre estacas, cores magníficas variando conforme a luz. Fiquei com vontade de conhecer mais da Noruega, e acho que a partir de agora tentarei sempre fazer uma viagem de Verão ao norte - além das belezas naturais, há a inestimável vantagem da temperatura!