quinta-feira, maio 29, 2008

O Segredo de um Cuscuz, de Abdel Kachiche

Muito bom, este La Graine et le Mulet, um filme afectuoso, com momentos divertidos e outros comoventes, muito bem interpretado, com uma visão perspicaz das relações familiares. Uma esplêndida galeria de personagens femininas. Sai-se do cinema com uma espécie de nostalgia bem humorada, apesar do final amargo.

domingo, maio 25, 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de Steven Spielberg


Indiana Jones está de volta, e Steven Spielberg regressa àquilo que sabe fazer bem - filmes de aventuras para crianças de todas as idades. Lembro-me de quando vi o primeiro filme do Indiana Jones, Os Salteadores da Arca Perdida, no enorme ecran do Berna, da sensação de embarcar numa viagem de aventura como nos livros e filmes da infância, logo desde a sequência inicial, com aquela pedra gigantesca a rolar vertiginosamente para cima de nós. O segundo filme passou-me um bocado ao lado, numa fase em que me achava demasiado adulto para ver filmes do Indiana Jones, e só o apreciei depois, mas ainda o acho o mais fraco dos três. Quando apareceu o terceiro já era mais adulto e podia saboreá-lo descontraído.

Estava um pouco apreensivo com este regresso de Indiana Jones, por um certo receio atávico das continuações "esticadas" de grandes êxitos. Mas o filme surpreendeu-me agradavelmente: um bom argumento, aventuroso e disparatado qb, o envelhecimento de Harrison Ford bem tratado, vilãos como deve ser, boas sequências de acção. Apenas achei que o Shia LaBeouf não é o actor ideal para aquele papel. De facto, é este tipo de filmes, ou o ET, que o Spielberg sabe fazer, em vez de tentar ser sério e produzir pastelões melodramáticos e maniqueístas. Indiana Jones é puro entretenimento cinematográfico, sai-se do cinema bem disposto com a vida.

terça-feira, maio 13, 2008

last.fm

Misto de estação de rádio e jukebox, a last.fm foi uma das últimas descobertas na net, graças ao meu amigo de sempre, ao qual fico grato - mais uma vez - por me proporcionar este prazer. Faz-se o download, cria-se um pefil, e pode-se ouvir todo o tipo de música enquanto se está a usar o computador. No momento estou a ouvir os Clash, na categoria anos 80, mas já ouvi vários géneros, de indie rock a jazz ou música do século XVIII. E que bem que sabe estar a usar o pc e ouvir a música que nos apetece, sem escolher ao pormenor, o que permite descobrir ou redescobrir músicas e bandas! Uma excelente descoberta!

quinta-feira, maio 08, 2008

The Letters of Lytton Strachey

Mais um exemplar de um tipo de literatura de que gosto bastante - cartas, memórias, biografias. Lytton Strachey é um dos elementos de Bloomsbury que acho mais interessantes, pela qualidade da sua escrita, pelas suas opiniões e críticas e mesmo pelo seu estilo de vida muito sui generis mas honesto e corajoso nas suas contradições. A sua prosa é sempre uma delícia de ler, bem escrita e cheia de espírito, mas confesso que esperava melhor desta selecção de correspondência - a colectânea de cartas que li de Virginia Woolf, Congenial Spirits, é infinitamente mais interessante. No entanto, valeu a pena ler; não só é mais um testemunho sobre a época e aquele grupo de pessoas como várias das cartas são interessantes em si, sobretudo as da época da guerra e as dirigidas a Carrington e a Leonard e a Virginia Woolf.

E ler cartas provoca-me sempre uma nostalgia por essa forma de comunicação, tão ao meu gosto e tão pouco utilizada hoje em dia. O relativo distanciamento de uma carta permite uma abertura e uma formulação de ideias e sentimentos que não se consegue numa conversa por telefone, permite-nos organizar e expessar os pensamentos de forma simultaneamente mais livre e controlada. De certa forma, o aparecimento e generalização da internet permitiu um regresso à comunicação escrita, na forma de e-mails, a que me converti rapida e fervorosamente.

segunda-feira, maio 05, 2008

Dez anos




Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public
doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.
The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

W.H. Auden



Todo o dia este poema tem andado às voltas na minha cabeça, mesmo que afastado por momentos por me concentrar nas actividades do quotidiano. Diz-se que time heals, e é de certa forma verdade; mas é também verdade que não produz uma restitutio ad integro; cura mas também deforma, esbate, esfuma, deturpa, enquista. Quando olho para dez anos atrás, tudo me parece simultaneamente pungente e irreal, como num sonho, e interrogo-me: mas será que isto existiu mesmo? foi outra vida? Como a pergunta de Satoco no final de O Mar da Fertilidade: Mas tem a certeza de que existiu alguém chamado Quioáqui Matsugae?

Por outro lado, tento evocar os momentos de felicidade, e por vezes ressurgem, de forma quase sempre imprevisível, e então sim, tenho a certeza de que existiu. E nessas alturas, são outros os versos que me vêm automaticamente à cabeça, aqueles que são para mim uma espécie de divisa do que passou:

Is it too late to touch you, Dear?
We this moment knew -
Love Marine and Love Terrene -
Love celestial too -

Emily Dickinson


quinta-feira, maio 01, 2008

The Charioteer, de Mary Renault

Há muitos anos que li a trilogia de Mary Renault sobre Alexandre - Fogo do Céu, O Jovem Persa e Jogos Funerários -, de que gostei imenso; só muito mais tarde li outro livro dela, The Mask of Apollo, que não me causou grande impressão. The Charioteer, que comprei em Londres há meses um pouco por acaso e para dar uma outra oportunidade à autora foi assim uma agradável surpresa.

Não só é um bom romance, bem escrito e com cenas e personagens muito bem criadas e convincentes, como é mais um exemplo, a par de Alexis, de Marguerite Yourcenar, de como é possível a uma mulher escrever de forma incrivelmente perspicaz e sensível (insightful é a palavra que exprime o que quero dizer) sobre experiências homossexuais masculinas. E juntando o facto de ter sido escrito por uma mulher (mesmo que ela própria lésbica, como é o caso de Mary Renault - e de Yourcenar) ao de os problemas tratados no livro serem não só o aprender a viver com a sua sexualidade mas mais ainda o da honestidade nas relações e os da escolha (ilustrada pela metáfora do auriga de Platão que dá o título ao livro) e da descoberta de si próprio, vem reforçar a minha convicção de que rotular estes romances em que as personagens principais são homossexuais e/ou os temas tratados envolvem o lidar com isso, de "literatura gay" é um erro, porque extremamente redutor. É aliás um reflexo da cultura americana de rótulos e compartimentos que a intelligentsia politicamente correcta europeia, curiosamente em outros aspectos tão crítica da cultura americana, tem adoptado avidamente.

The Charioteer - ou Alexis, ou tantos outros - vale pela sua qualidade, por ser bem escrito - e o bem escrito não significa escrita linguisticamente correcta, mas sim escrita convincente, arguta e tocante, que nos faz acreditar na história e pensar nos problemas e que deixa uma impressão durável. Enfim, acho que vou experimentar mais uns livros de Mary Renault.

Portugal e os seus BMWs - um detalhe

Houve um pormenor curioso em que reparei nesta viagem a Espanha. Na auto-estrada para o Algarve, no feriado de 25 de Abril, passei e fui ultrapassado por uma verdadeira multidão de BMWs; aliás, por muitos carros potentes e caros, como Audis ou Mercedes, mas decididamente os BMWs predominavam por uma grande margem. Dezenas não é exagero. Assim que entrei em Espanha, nada de BMWs. Como a quantidade deles que vira no trajecto de Lisboa ao Algarve me despertara a atenção, fui reparando nas marcas de automóveis por que ia passando e, mesmo que obviamente não tenha visto todos e me tenham escapado vários, nos 4 dias que estive em Espanha e em que passei por Sevilha, Granada e Córdova vi um total de... quatro BMWs, um dos quais era português!

Que concluir deste fenómeno? Mesmo considerando que o território percorrido em Espanha não seja uma amostra perfeitamente representativa do país, nem a A2 de Portugal, a diferença observada é mais um dado ilustrativo do que em Portugal se entende por qualidade de vida e como essa noção está indissoluvelmente, ligada à de status. Como a maioria dos portugueses adora pavonear o seu carro!