domingo, setembro 30, 2007

The Corfu Trilogy, de Gerald Durrell


The Corfu Trilogy inclui três livros: My Family And Other Animals (o mais famoso e sem dúvida o melhor), Birds, Beasts and Relatives e The Garden of the Gods, em que Gerald Durrell conta a sua infância encantada em Corfu nos anos 30. O meu desejo de o ler tinha a ver com o facto de Gerald ser irmão de um dos meus escritores favoritos, Lawrence Durrell, que é um dos retratados no livro, aliás de forma muito irónica e afectuosa, como os outros membros da família. Mas os livros valem por si, são uma evocação terna do tempo mágico de uma infância vivida num lugar e tempo privilegiados, com episódios narrados com um humor irónico, elegante e divertido (muito na linha do humor de Lawrence, que tem alguns livros cómicos que são muito divertidos: Stiff Upper Lip, Esprit de Corps e Sauve Qui Peut). Enfim, um livro que se saboreia e nos faz ficar bem dispostos, e que me dá imensa vontade de voltar à Grécia.

The Town, de William Faulkner

O segundo romance da trilogia Snopes é um pouco mais negro que o primeiro (The Hamlet); narra a ascensão social e a conquista de Jefferson por Flem Snopes, que no processo vai snopesianamente eliminando os outros membros, incómodos, da família. Os Snopes são uma espécie de erva-daninha indestrutível, que desponta em qualquer interstício e cresce aproveitando tudo, seja as fraquezas dos outros ou as suas próprias. Faulkner mostra um certo respeito por este género de gente, mas também despreza - a saga dos Snopes nunca é uma tragédia grandiosa como por exemplo as dos Sutpen ou dos Compson, a sua história é contada num tom ora melancólico ora irónico, e Faulkner sabe muito bem combinar estes dois registos, o humor e o drama, numa escrita sempre soberba. Eula Varner, a sua Helena de Tróia, é uma personagem quanto a mim muito menos bem conseguida que as dos Snopes (excelentes, todos) ou as dos Stevens.

sábado, setembro 29, 2007

Melancholia

Banquo - It will be rain tonight.
First Murderer - Let it come down.

William Shakespeare, Macbeth

Não sei se é da chuva, do princípio do Outono, de ouvir Nina Simone cantar Little Girl Blue... Sinto-me melancólico.

domingo, setembro 23, 2007

Mémoires de Saint-Simon

Há uns três anos, penso que durante a minha última estadia em Paris, comprei um volume com excertos das famosas Mémoires de Saint-Simon; já as vira citadas tantas vezes que há muito tinha curiosidade de as ler. Gostei imenso; sempre gostei particularmente de ler memórias e biografias, e gosto de História e do período da França do Grand Siècle; além de ser uma imensa fonte de informação sobre a vida quotidiana na Corte, os retratos de Saint-Simon são perspicazes e implacáveis, e a escrita é num francês saboroso e elegante, muito superior, por exemplo, ao de Mademoiselle de Montpensier nas suas Mémoires. Há uns meses, descobri um site com a transcrição integral das Memórias de Saint-Simon, e tenho estado a lê-las lentamente, divertindo-me com os intermináveis mexericos e intrigas da Corte de Luís XIV. Como a obra é enorme, não vou esperar por terminá-la para falar dela, pois poderá ser dentro de muito tempo. Os retratos são particularmente fascinantes, sobretudo os das personalidades importantes - começam geralmente com elogios rasgados e acaba pelas críticas mais ferozes e contundentes. Também é muito interessante ver os moeurs da época, em relação à vida quotidiana - higiene, divertimentos, sexo, etc. Apercebemo-nos também do triste estado a que a nobreza fora reduzida pelos reinados de Luís XIII e Luís XIV - um punhado de tontos dependentes do rei e lutando por cargos honoríficos e pensões, disputando lugares de chefes de guarda-roupa como se fossem de primeiro-ministro. Não admira que tenha acontecido a vassourada da Revolução.

sábado, setembro 22, 2007

Desejo de Papel, de John Buchan

Este livro, em que o dinheiro é tratado como a encarnação do desejo humano - representando a satisfação potencial dos desejos humanos e acabando por se transformar ele próprio no principal objecto do desjo - é bastante interessante, sobretudo por uma série de informação que veicula sobre a história do dinheiro. A escrita é um tanto entediante, e muitas das ideias do autor parecem-me um tanto rebuscadas e expostas de forma complicada. Mas aprendi várias coisas que desconhecia sobre a história do dinheiro, e tem muitas passagens interessantes. Fez-me reflectir na minha própria relação com o dinheiro, que tanto mudou ao longo dos anos - de franca avareza na adolescência até uma atitude bastante desprendida actualmente. É útil ter dinheiro, mas uma vez assegurado um nível de conforto razoável, a sua importância diminui consideravelmente.

domingo, setembro 16, 2007

Liliom, de Fritz Lang

Mais um filme de Fritz Lang na Cinemateca, o único falado em francês. É uma comédia leve e divertida, com vários momentos hilariantes e, como sempre em Lang, uma realização cuidada com planos excelentes. A história em si é um pouco pobre, com um final moralizador muito tonto - e muito datado.

Fábrica do Braço de Prata

Estive ontem à noite neste espaço que abriu há alguns meses, iniciativa das livrarias Eterno Retorno e Ler Devagar. É uma excelente ideia, de que Lisboa está muito necessitada: um espaço agradável, amplo, onde se pode ler, beber um copo, conversar, ver um filme, exposições, concertos, debates. Ontem estava a decorrer uma sessão de jazz um bocado cacofónico para o meu gosto, mas o edifício é tão grande que se podia estar noutras salas sem ouvir a música, e ainda assisti a parte do documentário I'm Your Man sobre Leonard Cohen. A frequência abundava numa certa fauna de sobreviventes da geração francófila de 60 e seus seguidores, com os quais me identifico muito pouco. No entanto, mesmo se muita da cultura produzida naquela época está datada e quanto a mim ficou sensatamente para trás, e se a pose dos seus adeptos me irritou
um pouco no passado (pois agora acho-a apenas um tanto ou quanto patética), muito do que sobrou, devidamente metabolizado pelo tempo, é válido, sobretudo esta atitude de prazer no saborear da cultura - música, literatura, cinema. É decididamente um sítio a visitar e a frequentar. E soube-me bem ouvir a música do Leonard Cohen, mesmo se interpretada pelo algo lamechas Rufus Wainwright.

domingo, setembro 09, 2007

Spione, de Fritz Lang


Apesar de datar de 1928, este filme vê-se com o mesmo agrado que se tivesse sido produzido agora, mesmo sendo mudo e durando mais de 3 horas. É um excelente filme de acção, muito bem realizado, com uma série de sequências que certamente influenciaram os filmes de Alfred Hitchcock. Mais uma vez constato a actualidade dos clássicos do cinema mudo e de Fritz Lang (de quem um outro filme mudo, mais antigo, Die Spinnen, vi com igual praze, um verdadeiro antepassado dos filmes de Indiana Jones). É curioso como nos bons filmes mudos não se sente a falta dos diálogos, engenhosamente substituídos pelas imagens e pela mímica exagerada dos actores, que tem precisamente essa função.

Lamento, no entanto, que a Cinemateca tenha deixado de passar acompanhamento musical, que fazia parte dos filmes mudos originalmente. O primeiro filme mudo que lá vi, há cerca de 2 anos, Greed, de Von Stroheim, era acompanhado ao piano, ao vivo, mas decerto seria mais barato e comportável uma banda sonora gravada, como no caso de Sunrise, de Murnau, que vi no Nimas, ou de vários que vi em dvd. Senti especialmente a falta da música em Nosferatu, de Murnau, por exemplo. Mas de qualquer forma é uma sorte conseguir ver estes velhos clássicos que tanto acrescentam ao conhecimento e apreciação do bom cinema.

sábado, setembro 08, 2007

O Véu Pintado, de John Curran


The Painted Veil é um bom melodrama, muito bonito, com excelente fotografia numa paisagem muito bela, boas interpretações dos sempre bons Edward Norton e Naomi Watts, que recriam de forma convincente a relação entre as suas personagens, e um ambiente melancólico ao som do piano de Erik Satie. Li o romance de Somerset Maugham há muitos anos, e não me lembrava nada da história, apenas me tinha ficado o título e um poema de Dante na introdução, cuja sonoridade musical nunca esqueci, e que reproduzo:

Deh, quando tu sarai tornato al mondo,
E riposato della lunga via,
Seguitò il terzo spirito al secondo,
Ricorditi di me, che son la Pia!
Siena mi fè; disfecemi Maremma:
Salsi colui che innnanellata pria
Disposando m'avea com la sua gemma.


(Disse a terceira sombra à segunda: - Por quem és, quando ao Mundo regressares, já da longa jornada repousado, lembra-te de mim, a quem chamaram Pia; Siena me fez, Maremma me desfez: bem o sabe aquele de quem, esposa prometida, a jóia nupcial me cingiu o dedo.)

sexta-feira, setembro 07, 2007

Detour, de Edgra J. Ulmer

Detour, de 1945, é um film noir perfeito - um homem duro e sensível perseguido pelo destino, uma pérfida mulher fatal má como as cobras, diálogos incisivos, um ambiente sombrio filmado a preto e branco. E um bom exemplo (como aliás há muitos) de como se consegue fazer um bom filme com recursos escassos. Um bom recomeço para mim da temporada da Cinemateca!

quarta-feira, setembro 05, 2007

Odisseia, de Homero

Depois da Ilíada li a tradução de Frederico Lourenço da Odisseia. Foi igualmente um imenso prazer, embora Homero e gerações de literatos que me perdoem mas preferiria que o poema se alongasse mais na viagem e menos na parte passada em Ítaca até à matança dos pretendentes. Mais uma vez achei a tradução saborosa e empolgante (embora goste mais da expressão "Aqueus de belas cnémides" usada na Ilíada do que das "belas joelheiras", mas é um pequeno pormenor). Mas não vou tecer comentários eruditos que seriam despropositados e pretensiosos, apenas digo que o prazer da sua leitura no século XXI dc confirma a imortalidade da obra.

Férias encurtadas


Mais uma vez rumei ao Alentejo para uns dias de turismo rural, o que habitualmente é repousante, combinando passeio, boa comida, descanso à beira de uma piscina e leitura. Infelizmente, pela primeira vez estive num péssimo sítio - instalações deficientes, comida péssima, dona antipática; de tal forma que não resisti mais de 3 dias. Enfim, fica uma história com alguns pormenores rocambolescos para contar aos amigos, e o cão, alma simples, sempre se divertiu com outros cães e muito espaço para brincar. Restam-me uns dias de férias em casa - pelo menos estou confortável - e espero ter mais sorte para a próxima.